Fomos feitos um para o outro?
por António Pimenta de Brito, 2016
De certeza que já sentimos logo afinidade por uma pessoa que gosta dos mesmos filmes que nós, músicas ou hobbies. Por exemplo, gostamos de ar livre e a outra pessoa também e isso é logo pretexto para sair e fazer em conjunto atividades de que gostamos. Ter interesses comuns é uma característica que ajuda no crescimento e manutenção de uma relação, mas se for a única, devemo-nos perguntar se estamos à procura de companhia ou de uma cara metade.
Aquela “história” da “cara metade” e da “meia laranja” não faz parte apenas do imaginário coletivo. É profundamente bíblico. Senão, vejamos: no livro do Génesis, Deus diz: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele” e então criou a mulher e levou-a ao homem, ao que ele “exclamou” (bonita referência ao espanto do homem pela beleza feminina): “esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Mais à frente, é mencionada a grandeza desta missão: “O homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher” e os dois serão “uma só carne” (Gen., 2, 7-24). Há, portanto, uma solidão original que é preenchida por este amor de alguém que é diferente de nós e com quem nos completamos. Quando dizemos “completas-me” é porque nos falta algo. Por isso, mais do que um alter-ego (outro-eu), o outro é alguém que nos complementa, nos preenche a solidão mas que também “nos faz melhores” (como ouvimos às vezes) e a quem fazemos melhores. Quando isto acontece, é um sinal de um grande amor. Devemos questionar um amor que não nos transforma para bem.
Ainda outro sinal de compatibilidade é a outra pessoa “completar as nossas frases”, como se diz. Já deve ter sentido que está a falar sobre certo assunto e a pessoa compreende-o. Numa relação, existir esta compreensão é muito importante, pois ao longo da vida deve fomentar esta amizade e é essa pessoa que vai ser a primeira a ouvi-la, compreendê-la e ajudá-la. Esta visão do mundo é importante pois ao casar estamos a “formar uma parceria”, como se diz nas empresas. Esta “parceira” é o nosso caminho e por isso, o amor, mais do que um sentimento, é uma decisão. Também é verdade que não temos de concordar em tudo, mas no “essencial”, é importante. Não será sempre perfeito, mas o casamento é um início e não um fim de uma caminhada sempre melhor.
Finalmente, uma das compatibilidades mais importantes é a de fé e valores, e por isso criámos um espaço de encontro privilegiado em que podemos procurar alguém que partilhe de algo de essencial na nossa vida e que é a crença em alguém maior do que nós. O ser “um só” é possível com uma grande ajuda, um caminho a três, nós e Deus.
Nota: António Pimenta de Brito escreve conforme o novo acordo ortográfico.
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