Até ao Fim das Tormentas
por José Luís Nunes Martins
Hoje, como sempre, são necessários homens e mulheres capazes de lutar até ao fim pelo bem em que acreditam. O mundo está cheio de conselhos, teorias e promessas, mas quase vazio de obras de valor. Obras completas. Não primeiras pedras.
A maldade nunca é falta de doutrina ou moral, pelo contrário, encontra sempre razões que apresenta como muito justas e boas. Muitos são os que desistem de se fazerem bons. Ora porque julgam já sê-lo, ora por se reconhecerem maus… e não estão para mais trabalhos. Outros ainda, desistem porque não são capazes de viver com a incompreensão de agir bem e, depois, serem acusados de o ter feito por outros motivos... a verdade é que é preciso mesmo estar disposto a sofrer bastante para ser nobre.
A vida é uma dura e intensa guerra. São muitas batalhas que envolvem inúmeros combates que têm de se travar com mil e um adversários… alguns mais brutos, outros mais subtis. Alguns vivem longe, outros habitam-nos dentro.
Por vezes, valorizam-se os que, apesar de terem ideias erradas, lutam por elas até ao fim… mas, na realidade o que lhes pode sobrar em coragem (que neste caso será uma grande teimosia) lhes faltará em discernimento (que neste caso será pouco mais do que senso comum).
Um coração nobre supõe não só uma inteligência para compreender o que deve fazer, mas também, e essencial, a capacidade de o concretizar até ao fim.
A obra só é perfeita se for até ao fim... e se o fim for bom.
Pode-se errar, parar e até descansar um pouco. Mas cuidando sempre de manter atentas as defesas, pois que é no cinzento dos dias com nuvens e frio que mais vezes a tentação de desistirmos do melhor de nós aparece disfarçada de sol radioso e amigo. Nunca é tempo de dormir de forma absoluta e tranquila. O ardor das feridas dos combates antigos deve mantermo-nos vivos e despertos às investidas do inimigo que a todo o momento podem surgir.
A mais importante coragem de um guerreiro não é a tenacidade com que ataca, mas a fortaleza com que resiste a tudo o que se lhe opõe, a tudo quanto o tenta afastar da construção do seu caminho, destino e missão. Só a inteireza combate a cobiça, o orgulho e o egoísmo.
Resistir, firmes, mas não inflexíveis, pois que as adversidades moldam os espíritos assim como as mãos amassam o pão… até ficarem maleáveis para que possam melhor construir o seu caminho, sem quebrar nem desistir. Porque o mal pode bater, mas não pode abater.
Na guerra da nossa vida, importa sempre continuar para diante, mas nunca por hábito; insistir, mas nunca por teima; persistir, mas nunca por apego... Perseverar, mas sempre pelo bem e até ao fim.
Uma pessoa valorosa nunca luta só. Tem consigo a herança que lhe deixaram os que lutaram antes de si com os mesmos inimigos; legado este que deve enriquecer com a sua vida, a fim de que deixe mais do que lhe foi entregue. Que dê mais do que recebeu.
Que o fogo que nos mantém vivos aqueça o nosso coração e nos ensine, sempre, a distinguir as luzes da verdade dos brilhos da falsidade.
Pode o mundo estalar e ruir, por todos os lados, que não poderá nunca manchar a nobreza de um homem bom. Cada um de nós luta contra adversidades durante toda a vida, e, no fim dela, ainda terá de lutar contra a morte... mas a verdade é que quem luta inteiro... vence!
Porque não se pode ser maior do que aquilo que é inteiro.
(ilustração de Carlos Ribeiro)
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