A Loucura da Paciência
por José Luís Nunes Martins
Nos sonhos, quase nunca se espera. No mundo irreal, os desejos e vontades concretizam-se de forma quase imediata. Na vida do dia-a-dia, a paciência é essencial a quem pretende alcançar algo de bom. Temos de ter a coragem da esperança, contra a qual podem sempre pouco as maldades do mundo e dos outros, bem como as angústias e os desesperos do nosso coração.
Esperar é uma espécie de oração. Um acreditar que se estende no tempo e se renova, vezes sem conta. Uma construção gota a gota. O que é bom... conquista-se.
Há um tempo para tudo e para cada coisa. Para lançar as sementes, depois para esperar, a seguir para colher. Depois, esperar um pouco mais e semear. Esperar. Colher. Esperar. Semear...
A impaciência torna impossível a construção de algo que permaneça para além dos sonhos do momento. Só a esperança, quando aliada à paciência, constrói o que permanece.
A nossa existência exige uma fé paciente mais do que forças rudes ou apaixonadas.
A esperança é a essência dos heróis. É a fé que nos mantém orientados, sabendo sempre onde nasce o sol, portador da luz que põe fim à noite e nos acorda. A nascente.
É esse rumo que determina o significado da nossa vida e o valor de cada um de nós. O que somos depende daquilo pelo que, nos dias e noites da nossa existência, decidimos lutar.
Mas a paciência, quando é posta à prova, diminui. É pois essencial que saibamos reconstrui-la após cada combate. Termos esperança por nós mesmos é um excelente princípio da felicidade.
Por vezes, confunde-se esperar com nada fazer. Mas quem espera já está a realizar, porque não tem tempo, a promessa da sua esperança cumpre-se na eternidade.
Muitos são os que desistem de si mesmos à primeira contrariedade, à segunda noite ou no meio de um deserto qualquer da vida. Ter esperança é, muitas vezes, uma loucura. Implica enfrentar as evidências aparentes para além de todos os sofrimentos reais.
Na vida há primaveras e invernos, outonos e verões. Tudo passa… Só o amor e a verdade se renovam. A nenhum homem é possível dominar o tempo e geri-lo como nos sonhos. Somos apanhados de surpresa, vezes sem conta, até aprendermos que a nossa vida depende muito mais do que fazemos nascer em nós do que daquilo que julgamos merecer.
Há quem tenha medo de ter esperança e há também quem tenha medo de a não ter!
A paciência, muito mais do que a força, é a essência das grandes obras... e a vida de cada um de nós é uma obra-prima. A única. Que deve ser trabalhada, mantida e aperfeiçoada até ao último instante.
Há quem não saiba sofrer. Há até quem prefira morrer a ter de enfrentar de forma paciente as longas dores de uma qualquer agonia... As amarguras da vida são parte dela. A alegria é apenas metade da felicidade. Até porque, na verdade, a nossa vida é muito mais do que parece...
Não importa quanto tempo vivemos. Importante é a amplitude da existência, a que profundidade e a altura decidimos viver, com que largura e longitude construímos o nosso mundo!
A paciência e a esperança, mais do que esperarem que algo aconteça no mundo, transformam o interior de quem as tem, preparando-o para o que há de ser. Para o que, no fundo, já é. Assim saiba manter-se firme na certeza do futuro que espera e pelo qual está disposto a sofrer. Afinal, nenhum flagelo é maior do que a esperança da paciência mais profunda!
Nada nesta vida é estável. Um breve instante é o tempo suficiente para que o impossível se faça real. Para o bem e para o mal.
O Amor espera tudo. Até com pouco se vive bem, quando se espera o infinito.
(ilustração de Carlos Ribeiro)
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